samedi, octobre 31, 2009

Você corre o mundo tentando chegar

Não é legal a impressão de que certo alguém não existe mais. De que o teu próprio passado te parece hoje virtual. As emoções de hoje não são melhores só porque são as de hoje... Tudo foi importante. Tudo. Principalmente a parte ruim.

mardi, octobre 27, 2009

Outoneceu a primavera

Certo dia, me pediram que escrevesse sobre o outono. Sem, de maneira alguma, alegar que não se tratava de um assunto inspirador, respondi que, naquele momento, outros devaneios permeavam minha mente e tinham, para mim, consideravelmente mais relevância do que a linda estação das flores no chão. Felizmente, o tempo passa. Um outono passou, muitas novas ruas passaram, e aqui estou eu, escrevendo sobre o outono, ou, por que não dizer "escrevendo sobre não escrever sobre o outono"?
Ao mudar de ideia em relação a fontes de inspiração para escrever, concluo, entretanto, que sequer há palavra a ser dita sobre uma cena como esta:
























No outono que vem, quem sabe, eu escrevo sobre O Outono...

mercredi, octobre 21, 2009

Ipê Roxo

... que de roxo nada tem

samedi, octobre 17, 2009

Receita de como aguentar a saudade de um amigo

Prepare o coração para os próximos 2 anos. Separe a noção de tempo da distância e reserve. Despeje as lembranças boas sem o esquecimento. A seguir, finja que o amigo está sempre por perto, já que é possível encontrá-lo todos os dias na internet e visto que telefonemas, de lá para cá, são muito baratos. Não esqueça de disfarçar a falta dele na frente dos outros: as pessoas têm complexo de psicólogas e nunca deixarão de querer te confortar, citando o lado bom de ele ter ido para tão longe. Acrescente, enfim, a noção de tempo que estava reservada e saiba que, embora o tempo passe, no início não há dor que diminua diante do amor e dos momentos tão bons que esse amigo em carne e osso proporcionou. Aliás, acrescente o amor, também. Caso contrário, a distância (que também estava reservada, em outro pote) pode fazer essa amizade abatumar, e aí, amiga confeiteira, não há fermento que a faça crescer novamente!

vendredi, octobre 09, 2009

Do não-conformismo

Não se conformava com nada. Se chovia, reclamava de ter que levar o guarda-chuva; porém, se fazia sol, dizia que a exposição demasiada a ele poderia causar danos à pele, mesmo não sendo, assim, tão branquinho - aliás, também não lhe agradava seu tom de pele.
E numa dessas, passou a reclamar também de falta de atenção, de modo que não aceitava o fato de a mocinha da locadora não convidá-lo para sair. Claro: também não se conformava em ter que tomar iniciativas. Ela que o convidasse, se assim quisesse. Sendo assim, acabava cada vez se relacionando menos com as pessoas. Não era justo que não fosse interessante aos olhos dos outros! O que há de errado com eles? E com elas? É tão difícil assim entender um olhar? Meia palavra já não basta mais? Na verdade, acreditava que palavras em dobro só piorariam tudo, embora fosse um tanto falante. Que tática nova adotar...? Como proceder? - eram as tormentas (cada vez mais) diárias que habitavam a cabeça desse pobre vivente.

Quando já não adianta mais mudar o caminho de volta a casa ou pegar um ônibus diferente, em horário diferente, com humor diferente, esse ser-humano se pergunta: será que não existe mais nenhuma forma de mudar esse destino de um ninguém tão fadado ao nada?

vendredi, octobre 02, 2009

Pequenas Coisas Boas

O homem que vem e assobia,
Rua da Praia, nascendo o dia
faça chuva ou faça sol,
assobia em RÉ, em SOL

As ruas são sujas de dia
E, ainda assim, ele assobia.
São sujas, também, de noite
e ele alegra um monte
os passantes, é como um "bom-dia!"

Do rosto amassado e cansado
com que acorda o cidadão
Brota um sorriso encantado,
surpreso com o canto em vão.

Mas em vão não há de ser
enquanto ele não quiser
Pois sabe como fazer
pr'alegrar a um qualquer.

Basta engatar a marcha
dos lábios, que sabem o proceder.

Essa manhã, meu bom senhor,
a Rua da Praia esteve menos vazia.


25/05/2009