mardi, avril 06, 2010

A mancha no tempo

Esfregou, esfregou, esfregou e não saiu. Pensava que não ficaria a marca, por isso é que havia deixado tudo intacto. E mesmo que ficasse, marcas de verdade tinha-as na lembrança de um tempo feliz e no coração, que, de tão triste, vinha aprendendo a ser feliz na marra. Tentou de tudo: não saiu. 
A marca era redonda, mas não muito indiscreta. Não lambeu, para saber, mas era evidente que a dita-cuja seria salgada - embora não tivesse cara de coisa salgada. Na verdade, não tinha cara de nada. Sequer teve cara de não cair ali, no mais, num lugar tão... impróprio! Que se recolhesse à sua insignificância, em vez de andar a espalhar-se por aí, dizendo ter sido ferida pelo (res)sentimento dos outros. Muito inocente essa tal, pensando ser a única a sofrer...

Vendo que a teimosa não desapareceria, desistiu de esfregar. E a marca de sua última lágrima ficou ali, para sempre, na mesa da sala.