samedi, décembre 25, 2010

Achados: o lado bom do final do semestre/2

"(...) o tempo estacionado no chão: dois punhados de areia e os cacos. Passado e futuro. E eu? Onde ficava eu agora que o era e o será se despedaçara? Só o funil da ampulheta resistira e no funil, o grão de areia em trânsito, sem se comprometer com os extremos. Livre."



As Meninas - Lygia Fagundes Telles

mardi, octobre 05, 2010

Não há flor que não se cheire

-Ei! O que é aquilo ali no chão? Me parece algo lilás. 
Peraí... Mas já?  

(Ela para em pleno meio-fio, a mirar fixamente um ponto arrouxeado. Seu olhar é perplexo, mas de uma perplexidade com semblante satisfeito. Imediatamente, dando-se conta do que era, trata de investigar a seu redor se haveria mais daquelas. 

Nada. Fixa novamente o olhar naquela única e ousada flor lilás, que não só já viera ao mundo como também já viera ao chão. Por fim, já sentindo sabor de primavera, tirou o olhar do solitário pontinho lilás e seguiu suspirando (discretamente) pelos paralelepípedos que, em breve, seriam novamente ruas da flor lilás).

mercredi, septembre 01, 2010

dimanche, août 08, 2010

Auto-sabotagem alheia

Ivan era um guri convencional. Como qualquer outro, ia a festas, cursava Direito e não fumava cigarro. Nunca apanhou de seus pais e sempre teve tudo o que quis, mas, ainda assim, deixava uma nota preta na psicóloga, a cada consulta. Teve uma namorada durante três anos, mas percebeu que nem combinavam, mesmo, quando ela terminou a relação sem dar maiores explicações. 
Na faculdade, fazia o curso que pudesse dar retorno financeiro, conselho dado por seus pais: um, engenheiro; outra, dentista. Ivan, bem lá no fundo, não gostava muito do que estudava. E foi num almoço no RU do Centro que ele, um dia, conheceu Carla: guria inteligente, bonita, legal e futura fonoaudióloga. O rapaz sempre havia sonhado em encontrar alguém como ela e, nos últimos tempos, praticamente já descartava a chance de isso acontecer. Carla era compreensiva, educada, usava calça 38 e, ainda por cima, não era ciumenta. Não era ciumenta! 
A aproximação entre os dois foi imediata. Passaram a se encontrar todos os dias, os pais da moça faziam muito gosto pelo namoro, moravam relativamente perto e, pra completar, Carla também gostava de futebol e de Pink Floyd. Estavam completamente apaixonados um pelo outro. Um se dava bem com os amigos do outro e, em alguns fins de semana, até iam todos juntos para a praia. Todos diziam a Ivan que ele tinha encontrado a mulher da vida dele, pois ela era exatamente o que ele sempre esperou em uma namorada: era perfeita. 
Dias após os comentários de seus amigos, Ivan esteve algo pensativo e melancólico, o que não preocupou muito Carla, que sabia respeitar o espaço do companheiro e não quis atormentá-lo com perguntas. O rapaz havia encontrado a guria certa. E isso começou a assustá-lo de tal maneira, que ele percebeu que não poderia estar tudo assim tão perfeito em sua vida e, dois dias depois, terminou o namoro.

mercredi, juillet 28, 2010

E quando se descobre que achar que se entende um outro idioma pode pôr tudo a perder?
Nada: não se faz nada. Já é tarde e o mal-entendido já foi mal entendido. Quem sabe, com mais paciência, tudo poderia haver sido diferente. Tontos (...)

Bipolaridade & Futebol

Tratar-se-á de dois assuntos, hoje: bipolaridade e futebol. Assuntos afins, como o possível leitor pode perceber. Não que eu seja médica, mas posso diagnosticar, assim como muita gente pode(ria), quando esses problemas afetam certo indivíduo. 
O primeiro exige apenas observação meticulosa de determinados diálogos, ainda que durante não muito extenso período. Se comparados diferentes dias, já se pode obter resultados satisfatórios (ou decepcionantes, já que tudo depende do ponto de vista). Se já é suficiente somente a tal observância efêmera das características de uma bipolaridade em potencial, já que talvez nada seja tão definitivo e tudo possa ser relativizado, de acordo com as circunstâncias? Sim, já é suficiente.

O segundo exigirá muito mais paciência do amigo: é que fiquei sabendo, hoje, que Maradona não mais será técnico da seleção de la República Argentina. iQué lástima!

vendredi, juillet 02, 2010

Achados: o lado bom do final do semestre II

A escrita gira sobre si mesma em um profundo ato de narcisismo, mas sempre perturbada e obscurecida pela culpa social de sua própria inutilidade.


Terry Eagleton, "O pós-estruturalismo". 

Achados: o lado bom do final do semestre

Anotação para um poema

As mãos que dizem adeus são pássaros
Que vão morrendo lentamente.

Mario Quintana


dimanche, juin 20, 2010

Desoutonecendo...

Termina o outono e eu nem escrevi sobre ele, como esbocei prometer. 
Conclusão: prefiro a primavera.
Malzaê.

Acontecimento inusitado

Era tão, mas tão egoísta, que não pensou na possibilidade de não poder se vingar por acabar vivendo mais do que quem se esperava que vivesse mais e, assim, o arrependimento tardio se duplicou.

Arrependimento tardio

Era tão, mas tão orgulhoso, que esperou morrer para reconhecer que também e pior havia errado, a fim de causar remorso alheio.

lundi, mai 31, 2010

Guerra de Egos ou "Ao Ego - II"

Era uma vez um ego. Mas um ego bem invocadinho. Se não era afagado a todo tempo, enfadava-se tanto que parecia até desejar quem não lhe demonstrava apreço. Mesmo que não desejasse. Aí estava o problema: não sabia diferenciar quando estava ferido ou quando estava apaixonado. O fato é que achava ousadia demais que não lhe alisassem a toda hora, ressaltando suas qualidades e endeusando-o deveras. Como isso lhe deixava tristinho, pensava estar amando. Acabava nunca descobrindo se realmente estava ou se tudo não passava de reação à humilhação de não ser devidamente desejado. Assim permanece.

Era uma vez outro ego. Primeiramente, assemelhava-se ao primeiro; mas, na verdade, faltava-lhe algo de coragem. Era bundão. Deixava-se influenciar desgraçadamente pelas chantagens de egos alheios, e, assim, não conseguia curar os machucados com novos remédios: novas emoções. Sabotava-se constantemente. Era masoquista. Só que era tão orgulhoso quanto o um ali de cima. Dessa forma, era tão paradoxal quanto. Não sabia se casava, se comprava uma bicicleta ou se deixava de ladainha e passava a ser transparente com seus sentimentos, sem esquecer de respeitar os dos outros.

Assim divergem.
Porém, se a Terra for redonda, assim talvez possam se encontrar, um dia. 

samedi, mai 29, 2010

Frio Abraço

Ou não me abrace, ou faça-o direito.
O teu disfarce nunca foi perfeito

Viole tuas regras
de ser tão piegas
E passe reto
Olhe pro teto
Mas por favor, eu te peço
Não forje um afeto
Que este, eu garanto
só pode ser franco;
senão, ele é frio.


E eu não quero o teu abraço frio.
 

mercredi, mai 12, 2010

História de cinema

Aquela frase havia permanecido para sempre em sua memória, desde a data em que fora proferida. "A cada dia gosto mais de ti". Ainda que já suspeitasse, sempre se deu mal em relação a conclusões precipitadas, então... preferia demonstrar surpresa, dali em diante. Era mais bonitinho e menos arrogante. "A cada dia gosto mais de ti"... Para se dizer algo assim, certamente tem-se que pensar muito bem. Já havia decorado exatamente palavra por palavra, na mesma ordem. Também havia feito as representações sintáticas das orações e arrisco dizer até que saberia repetir a sentença em vários outros idiomas. Cabe refletir sobre a ideia de ascensão que ela passa: não é "gosto de ti" ou "gosto muito de ti". É CADA DIA mais. Ou melhor... era. 
Não será narrada aqui alguma possível e complexa evolução desse sentimento, dessa história. Também não se entrará em méritos, pois não há "certo" ou "errado" ao se gostar de alguém. Não passa de uma verdade, por assim dizer. Ou não passava, pois já estamos no fim da história, e ela, que um dia emitiu a tal encantada frase, foi embora para muito longe e nunca mais voltou.

Hoje, já é futuro e "cada dia mais" ficou no passado, para o resto dos dias.

mardi, avril 06, 2010

A mancha no tempo

Esfregou, esfregou, esfregou e não saiu. Pensava que não ficaria a marca, por isso é que havia deixado tudo intacto. E mesmo que ficasse, marcas de verdade tinha-as na lembrança de um tempo feliz e no coração, que, de tão triste, vinha aprendendo a ser feliz na marra. Tentou de tudo: não saiu. 
A marca era redonda, mas não muito indiscreta. Não lambeu, para saber, mas era evidente que a dita-cuja seria salgada - embora não tivesse cara de coisa salgada. Na verdade, não tinha cara de nada. Sequer teve cara de não cair ali, no mais, num lugar tão... impróprio! Que se recolhesse à sua insignificância, em vez de andar a espalhar-se por aí, dizendo ter sido ferida pelo (res)sentimento dos outros. Muito inocente essa tal, pensando ser a única a sofrer...

Vendo que a teimosa não desapareceria, desistiu de esfregar. E a marca de sua última lágrima ficou ali, para sempre, na mesa da sala.

mardi, mars 30, 2010

Sentimento: desculpe, foi engano.

Se possível fosse sentir sem querer ou querer sem sentir, poderia, agora, dar-me conta de que tudo não passou de um sonho: desses sonhos imaginados, não o sonho que é sonho de tão lindo. O problema é que estou na dúvida! Será que a pessoa dramática chega ao ponto de sentir sem sentir? O fato é que é bonito sentir (mesmo sem sentir). Então, acaba pegando bem, né? Todo mundo quer ter sempre um sentimentinho-seja-lá-pelo-quê. Não importa muito tentar descobrir se o dito cujo é realmente sentido por ti: o fato é que sentes (que sentes) que é tri bom sentir. Ainda que seja sem querer. Escapole (de escapulir) todos os dias uma depressãozinha por alguém, e se esse alguém está longe, então... dá mais status ainda. Passou maidimês numa convivência inesquecível com o ser? Batata! Mais pega-ratão ainda! Não é paixão nem nada. Não caia nessa. Você apenas está com síndrome de autoenganação diacrônica paixonítica baseada numa inicialmente empolgante esperança de que em todo aquele tempo esse alguém gostava tanto de ti que te demonstrava isso todos os dias e agora nunca mais.


Nunca mais. Mas isso não aconteceu, foi só engano.

lundi, février 08, 2010

Te decepciono? Que bom, que bom. É maravilhoso saber que, acima de qualquer crítica não solicitada, está a verdade, a transparência: a minha consciência. Só tolos não decepcionam a ninguém. Falta-lhes coragem de ser insuportáveis, desprezíveis e tudo de mais nojento que possa existir.
Ser agradável é barbada. Assim, até eu me daria bem, escondendo na boca todas as palavras, nos olhos, todas as expressões e, nos gestos, todas as atitudes. As não-atitudes. Se for para não-viver, não tem graça.

Não te decepciono? Começo a me preocupar...

mercredi, janvier 13, 2010

Qué voy a hacer?

... je ne sais pas.

jeudi, janvier 07, 2010

Sem objetivo algum

Não sabia muito bem o que isto queria dizer, mas se tinha algo de que tinha certeza era de que nunca fora tão feliz quanto dantes. Naquela época... em que todos os sentimentos bons pareciam se bastar para sempre. Com toda a certeza tal conclusão, de maneira alguma, queria dizer que hoje estava pior e que "quem dera o tempo voltasse". Não, né. Mas precisava relembrar da alegria otária de outrora. Se sentia inteligente e com maturidade suficiente para qualquer coisa que viesse: viesse o que viesse. Só que hoje não importa nada mais disso, e sim que, venha o que venha, considera bem difícil a hipótese de sentir-se tão feliz outra vez. Repete: não poderia estar melhor, atualmente. De acordo com as condições presentes, era brilhante o momento. No entanto, como foi naquele tempo, não haveria igual. Não sabia por quê. Mas não tem como. Não tem.


E era isso.