dimanche, août 08, 2010

Auto-sabotagem alheia

Ivan era um guri convencional. Como qualquer outro, ia a festas, cursava Direito e não fumava cigarro. Nunca apanhou de seus pais e sempre teve tudo o que quis, mas, ainda assim, deixava uma nota preta na psicóloga, a cada consulta. Teve uma namorada durante três anos, mas percebeu que nem combinavam, mesmo, quando ela terminou a relação sem dar maiores explicações. 
Na faculdade, fazia o curso que pudesse dar retorno financeiro, conselho dado por seus pais: um, engenheiro; outra, dentista. Ivan, bem lá no fundo, não gostava muito do que estudava. E foi num almoço no RU do Centro que ele, um dia, conheceu Carla: guria inteligente, bonita, legal e futura fonoaudióloga. O rapaz sempre havia sonhado em encontrar alguém como ela e, nos últimos tempos, praticamente já descartava a chance de isso acontecer. Carla era compreensiva, educada, usava calça 38 e, ainda por cima, não era ciumenta. Não era ciumenta! 
A aproximação entre os dois foi imediata. Passaram a se encontrar todos os dias, os pais da moça faziam muito gosto pelo namoro, moravam relativamente perto e, pra completar, Carla também gostava de futebol e de Pink Floyd. Estavam completamente apaixonados um pelo outro. Um se dava bem com os amigos do outro e, em alguns fins de semana, até iam todos juntos para a praia. Todos diziam a Ivan que ele tinha encontrado a mulher da vida dele, pois ela era exatamente o que ele sempre esperou em uma namorada: era perfeita. 
Dias após os comentários de seus amigos, Ivan esteve algo pensativo e melancólico, o que não preocupou muito Carla, que sabia respeitar o espaço do companheiro e não quis atormentá-lo com perguntas. O rapaz havia encontrado a guria certa. E isso começou a assustá-lo de tal maneira, que ele percebeu que não poderia estar tudo assim tão perfeito em sua vida e, dois dias depois, terminou o namoro.