Era uma vez um ego. Mas um ego bem invocadinho. Se não era afagado a todo tempo, enfadava-se tanto que parecia até desejar quem não lhe demonstrava apreço. Mesmo que não desejasse. Aí estava o problema: não sabia diferenciar quando estava ferido ou quando estava apaixonado. O fato é que achava ousadia demais que não lhe alisassem a toda hora, ressaltando suas qualidades e endeusando-o deveras. Como isso lhe deixava tristinho, pensava estar amando. Acabava nunca descobrindo se realmente estava ou se tudo não passava de reação à humilhação de não ser devidamente desejado. Assim permanece.
Era uma vez outro ego. Primeiramente, assemelhava-se ao primeiro; mas, na verdade, faltava-lhe algo de coragem. Era bundão. Deixava-se influenciar desgraçadamente pelas chantagens de egos alheios, e, assim, não conseguia curar os machucados com novos remédios: novas emoções. Sabotava-se constantemente. Era masoquista. Só que era tão orgulhoso quanto o um ali de cima. Dessa forma, era tão paradoxal quanto. Não sabia se casava, se comprava uma bicicleta ou se deixava de ladainha e passava a ser transparente com seus sentimentos, sem esquecer de respeitar os dos outros.
Assim divergem.
Porém, se a Terra for redonda, assim talvez possam se encontrar, um dia.