lundi, mai 31, 2010

Guerra de Egos ou "Ao Ego - II"

Era uma vez um ego. Mas um ego bem invocadinho. Se não era afagado a todo tempo, enfadava-se tanto que parecia até desejar quem não lhe demonstrava apreço. Mesmo que não desejasse. Aí estava o problema: não sabia diferenciar quando estava ferido ou quando estava apaixonado. O fato é que achava ousadia demais que não lhe alisassem a toda hora, ressaltando suas qualidades e endeusando-o deveras. Como isso lhe deixava tristinho, pensava estar amando. Acabava nunca descobrindo se realmente estava ou se tudo não passava de reação à humilhação de não ser devidamente desejado. Assim permanece.

Era uma vez outro ego. Primeiramente, assemelhava-se ao primeiro; mas, na verdade, faltava-lhe algo de coragem. Era bundão. Deixava-se influenciar desgraçadamente pelas chantagens de egos alheios, e, assim, não conseguia curar os machucados com novos remédios: novas emoções. Sabotava-se constantemente. Era masoquista. Só que era tão orgulhoso quanto o um ali de cima. Dessa forma, era tão paradoxal quanto. Não sabia se casava, se comprava uma bicicleta ou se deixava de ladainha e passava a ser transparente com seus sentimentos, sem esquecer de respeitar os dos outros.

Assim divergem.
Porém, se a Terra for redonda, assim talvez possam se encontrar, um dia. 

samedi, mai 29, 2010

Frio Abraço

Ou não me abrace, ou faça-o direito.
O teu disfarce nunca foi perfeito

Viole tuas regras
de ser tão piegas
E passe reto
Olhe pro teto
Mas por favor, eu te peço
Não forje um afeto
Que este, eu garanto
só pode ser franco;
senão, ele é frio.


E eu não quero o teu abraço frio.
 

mercredi, mai 12, 2010

História de cinema

Aquela frase havia permanecido para sempre em sua memória, desde a data em que fora proferida. "A cada dia gosto mais de ti". Ainda que já suspeitasse, sempre se deu mal em relação a conclusões precipitadas, então... preferia demonstrar surpresa, dali em diante. Era mais bonitinho e menos arrogante. "A cada dia gosto mais de ti"... Para se dizer algo assim, certamente tem-se que pensar muito bem. Já havia decorado exatamente palavra por palavra, na mesma ordem. Também havia feito as representações sintáticas das orações e arrisco dizer até que saberia repetir a sentença em vários outros idiomas. Cabe refletir sobre a ideia de ascensão que ela passa: não é "gosto de ti" ou "gosto muito de ti". É CADA DIA mais. Ou melhor... era. 
Não será narrada aqui alguma possível e complexa evolução desse sentimento, dessa história. Também não se entrará em méritos, pois não há "certo" ou "errado" ao se gostar de alguém. Não passa de uma verdade, por assim dizer. Ou não passava, pois já estamos no fim da história, e ela, que um dia emitiu a tal encantada frase, foi embora para muito longe e nunca mais voltou.

Hoje, já é futuro e "cada dia mais" ficou no passado, para o resto dos dias.